Eu me formei. Todas as garotas dançaram valsa com os pais, mas eu dancei com o meu irmĂŁo. Foi engraçado, jĂĄ que nenhum de nĂłs sabia o que fazer. Ele me rodopiava e eu me sentia a estrela da pista de dança, nem liguei de incomodar os outros convidados. Tinham era inveja da nossa criatividade. Eu sorri feliz das minhas conquistas, de ter chegado lĂĄ. Mesmo que vocĂȘ nem soubesse que lĂĄ era meu destino, mesmo que vocĂȘ nem parecesse se importar. E eu nĂŁo senti sua falta.NĂŁo Ă© triste isso? Eu jĂĄ te chamei de pai. Mas buscando passado e revivendo emoçÔes, essa Ă© uma palavra digna de merecimento. E vocĂȘ, longe de merecer, parece desprezĂĄ-la. Ou talvez apenas ignore seu significado. E eu, que nunca fui pai, expliquei diversas vezes qual era o seu papel na minha vida. Olha, vocĂȘ tem que se preocupar com as minhas notas do colĂ©gio e o meu programa de tv preferido. VocĂȘ tem que me amar, porque Ă© o que os pais fazem. E quando vocĂȘ sentir esse amor, me liga e diz isso. Sente minha falta de vez em quando e me manda um e-mail sĂł pra comentar que ouviu a mĂșsica que eu gosto e lembrou de mim. Ou melhor, nĂŁo faça nada disso. Nada vai me recuperar.Pior que o Ăłdio, sĂł a indiferença. Eu caminho entre esses dois estados numa rapidez inconclusiva, esquecendo da sua existĂȘncia 364 dias por ano e odiando vocĂȘ quando sua voz ao telefone estraga meu dia. Esse Ă© o seu problema: a mania de deixar as coisas pela metade. Por que vocĂȘ nĂŁo desaparece pra sempre? Sua vida permaneceria igual sem mim. Confesso que chorei lendo o cartĂŁo de aniversĂĄrio que vocĂȘ me mandou. Mas agora Ă© tarde. Eu nĂŁo vejo vocĂȘ hĂĄ mais de um ano e vocĂȘ vem com palavras fĂĄceis, achando que pode mudar uma vida inteira em poucos minutos... NĂŁo chorei de saudades, nem de arrependimento. Chorei de angĂșstia, mĂĄgoa. Raiva, atĂ©. VocĂȘ tem atrapalhado meus planos de independĂȘncia, atormenta minha vontade de ser confiante. Eu nem acredito mais nos homens por sua causa: E se um dia eu resolver me casar e me deparar com um homem como vocĂȘ? Eu nunca me apaixonei. Nunca confiei em ninguĂ©m. E Ă© tudo culpa sua.VocĂȘ nunca mais me viu. NĂŁo sabe mais a cor dos meus cabelos, se engordei ou emagreci... NĂŁo sabe que mudei meu curso de faculdade, mudei meus sonhos. Desisti de sonhos. O tempo continua correndo, tenho tanta coisa presa em mim. SĂł queria que vocĂȘ soubesse que eu nĂŁo precisei de vocĂȘ. Que a sua vingança contra minha mĂŁe nĂŁo deu certo. Que descontar nos filhos suas frustraçÔes sĂł fez com que eu ficasse mais amarga, mais descrente. Sou seletiva e nĂŁo sei manter amizades.Isso te faz melhor? Diminuir todos Ă  sua volta, te fez maior? Essa sua solidĂŁo ridĂ­cula Ă© o que vocĂȘ queria? O sonho da sua vida era passar o natal sozinho assistindo tv? EntĂŁo, parabĂ©ns. VocĂȘ cumpriu sua missĂŁo no mundo. Chegou a hora de vocĂȘ sumir de vez.  

Veronica H.

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